Wednesday, December 13, 2006

Na margem do rio Piedra...

Eu me sentei e chorei.
Conta a lenda que tudo que cai nas águas deste rio -
as folhas, os insetos, as penas das aves -
se transforma nas pedras do seu leito.
Ah, quem dera eu pudesse arrancar o coração do meu peito
e atirá-lo na correnteza,
e então não haveria mais dor,
nem saudade, nem lembranças.
Às margens do rio Piedra eu me sentei e chorei.
O frio do inverno fez com que eu sentisse as lágrimas em meu rosto,
e elas se misturaram com as aguas geladas que correm diante de mim.
Em algum lugar este rio se junta com outro,
depois com outro, até que - distante dos meus olhos e do meu coração -
todas estas águas se misturam com o mar.
Que as minhas lágrimas corram assim para bem longe,
para que meu amor nunca saiba que um dia chorei por ele.
Que minhas lágrimas corram para bem longe,
e então eu esquecerei do rio Piedra, do mosteiro,
da igreja nos Pirineus, da bruma,
dos caminhos que percorremos juntos.
Eu esquecerei as estradas, as montanhas, e os campos de meus sonhos -
sonhos que eram meus, e que eu não conhecia.

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