Saturday, December 27, 2008

Da vida anterior à perca do livre prisioneiro

Durante os primeiros anos de isolamento,
vivi com Luz, Fava e Guerra.
Possuíamos o exército das abelhas
e o parque de diversões da menina contadora de histórias.
Morávamos numa casa colorida, vazia e fechada.
Todo o tempo batiam insistentemente em nossa porta,
mas sentíamos que de todos os trancados lá fora, poucos
pediriam abrigo com sinceridade.
Portanto continuamos sozinhos. Não ousando abusar
da pretensiosa segurança oferecida pela Inestimável.
Ensinaram-me uma arte, um estudo
que nunca soube o nome! Era um exercício
de investigação, de conexões...
Revezávamos em tarefas árduas, brincadeiras como
superação de limites,
treinamento de fuga,
simulação de tortura.
Havíamos dormido juntas naquela noite, Luz e eu.
Fava e Guerra ficaram do outro lado do corredor.
Era Maio, dia 27, um dia frio,
acordei num amanhecer angustiado,
e não havia mais nada!
Nem Luz, nem casa, nem brincadeiras.
Tudo aquilo desaparecera de mim, tendo sido
consumido, talvez por aquele pressentimento
que me envolvera durante a madrugada.
Acordei sentindo a alma asfixiar-se.

Estava de volta à realidade.
O telefone tocou pouco depois das 7:00...
Era um Aviso.
A antecipação do vácuo
que se formaria após as
formolidades...
É desumano o fim do que já foi tão humano.
Urgiu-me utilizar todo o treino em dor que já tivera,
para a contenção das lágrimas,
e para as corridas pela escadaria do silêncio,
cuja descida e subida seria necessária
em inúmeras novas vezes.
Viver em superação perdera um pouco de seus encantos,
tornou-se crua sobrevivência.
Mas um outro mundo eu construiria...

Luz assumiu vários nomes e formas
de presenças diferentes
nos anos que se passaram
após o fim da casa Maior.
Voltaremos a falar mais sobre isso.

2 comments:

Luciene de Morais said...

Treino em dor...
é necessário conter as lágrimas?
Beijo

Folha Caída said...

Olá miúda
Ao acederes ao meu blog deste-me a possibilidade de aceder ao teu.
Fiquei mais rica!
Como escreves bem e pões sentimento em cada palavra!
Se são vivencias, aprende com elas... Se são fantasias, tens uma grande capacidade de escrita.
Não li toda a tua página, porque quiz dizer-te já que apreciei muito a tua forma de escrever.
Mas prometo que o vou fazer.
A tua página diz muito pouco de ti.
Onde moras?
Não queres dar-me o teu mail?
Poderíamos falar sem ser através do blog.
O meu está na minha página.
De qualquer modo um beijinho